Quando o Museu de Arqueologia de Itaipu foi criado em 1977, inaugurou-se a exposição de longa duração “Aspectos da pré-história do litoral do Estado do Rio de Janeiro”. Era uma exposição com abordagem arqueológica, que não retratava a memória mais recente daquela comunidade de pescadores que tanto desejou preservar a região e seus monumentos históricos.

Com o passar dos anos, essa exposição de caráter científico e sisuda – afastada da realidade cotidiana daquela comunidade que vivia tanto da pesca quanto da venda de alimentos, água, protetores solares, cangas e biquínis na praia – pairava sobre suas cabeças, alheia às suas demandas e aos seus usos sociais. Em contrapartida, havia uma passividade do público em relação àquele acervo e o museu começou a ver a comunidade, que outrora pedira por sua criação, afastar-se dele. Os ossos de oito mil anos já não lhes diziam mais nada.

Dessa forma, a nova exposição do museu, “Percursos do Tempo – Revelando Itaipu”, (inaugurada em janeiro de 2010) dá início a um novo discurso museológico e tenta fazer uma aproximação do museu com a comunidade. Ali não há unicamente um edifício a ser visitado, mas sim um território – que é de todos – e compreende as ruínas do antigo Recolhimento de Santa Teresa, a Duna Grande, a praia e o Parque Estadual da Serra da Tiririca. Ali não há apenas coleções arqueológicas a serem contempladas, mas um patrimônio arqueológico, arquitetônico e ecológico, que é nacional e comunitário.

O museu não deseja apenas um público formado por turistas e visitantes de outros bairros, mas também uma comunidade participativa. O museu não tenta promover apenas uma ação educativa na área arqueológica e histórica, mas também na área do ecodesenvolvimento, de onde é tirado o sustento econômico daquela comunidade. Ou seja, o museu não quer falar apenas do ontem, mas quer tocar também no hoje e no amanhã.

Assim, a exposição “Percursos do Tempo” insere essa comunidade e seus antepassados (não apenas os sambaquieiros) nos percursos do tempo de Itaipu. Os modos de vida e de sustento atual também fazem parte do tempo, e isso reaproxima uma população que estava afastada e desinteressada do museu. Ademais, essa é uma perspectiva de trabalho que tem como foco a multidisciplinaridade das atividades educativas, majoritariamente nas áreas de história, geografia, biologia e química e arqueologia.

“Percursos do Tempo”, portanto, apresenta os vestígios das comunidades sambaquieiras, mas também insere barcos de pesca atuais, redes, a praia de Itaipu e aborda a importância da preservação da biodiversidade do local.

Com esta nova exposição, o museu tenta firmar-se como local de troca de experiências entre culturas distintas; seja a troca entre os antigos e os atuais habitantes desta faixa litorânea de Niterói, ou entre a pluralidade cultural dos modos de fazer e viver dos moradores de Itaipu e a daqueles oriundos de outros cantos.

A expografia do museu conta com peças das seguintes coleções: a Coleção Hildo de Melo Ribeiro (Peças coletadas no sítio arqueológico Duna Grande, pelo arqueólogo amador que dá nome à coleção, e por ele doadas ao IPHAN); a Coleção Blocos-testemunhos do Sambaqui de Camboinhas (Material proveniente das pesquisas de salvamento realizadas pela equipe do Museu Nacional em 1979, no sambaqui de Camboinhas, durante o projeto intitulado “Pesquisas de Salvamento em Itaipu, Niterói, RJ”); a Coleção Remanescentes do Recolhimento de Santa Teresa (composta por fragmentos cerâmicos, líticos e vítreos encontrados no sítio arqueológico histórico em que se encontram as ruínas do antigo Recolhimento de Santa Teresa) e a Coleção Aureliano Mattos de Souza (formada por objetos doados por este pescador tradicional da região).